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A Casa do Berro

Eles só queriam brincar de invocar coisas…

Atenção: Este conteúdo contém linguagem explícita, violência gráfica e é recomendado para maiores de 18 anos.

Brincadeiras Noturnas

Em uma cidadezinha esquecida no interior do Mato Grosso, onde a noite parece engolir até o som dos grilos, havia uma casa abandonada no fim de uma rua sem saída, cercada por um matagal que parecia vivo, sussurrando. Os moradores de Cáceres chamavam o lugar de “Casa do Berro”, porque, dizem, quem entrava depois do anoitecer nunca saía sem gritar. A lenda falava de um grupo de crianças que, nos anos 80, brincava de invocar coisas que não deveriam ser chamadas. Não era uma brincadeira de criança, não. Era algo fodido, um ritual que misturava sangue, medo e um desejo doentio de ver o que havia do outro lado. Essas crianças nunca foram vistas de novo, mas a casa ficou marcada, e as Brincadeiras Noturnas começaram.

Noite de Sábado

Samuel e Ana, dois irmãos de 19 e 21 anos, eram daqueles jovens que não acreditavam em porra nenhuma. Tinham fama de encrenqueiros, sempre metidos em merda, desde roubar cerveja no mercado até zoar as histórias dos velhos. Numa noite de sábado, bêbados de cachaça barata e cheios de adrenalina, decidiram invadir a Casa do Berro com um grupo de amigos, Téo e Clara, pra “provar que era tudo lorota”. Levaram lanternas, um isqueiro, e uma faca que Samuel sempre carregava, porque “nunca se sabe”. A ideia era simples: entrar, tirar umas fotos, zoar a casa e sair rindo. Mas o que eles encontraram não tinha nada de engraçado.

“Fantasma não existe, porra.”

A casa era um esqueleto de madeira podre, com buracos no teto e um cheiro de mofo misturado com algo metálico, como sangue velho. As paredes estavam cobertas de rabiscos que pareciam feitos com unha, palavras tortas que ninguém conseguia ler, mas que davam um frio na espinha. No chão do que já foi uma sala, havia um círculo desenhado em algo que parecia carvão, mas fedia a carne queimada. Clara, que era a mais cagona, quis dar o fora, mas Samuel, com aquele ego de merda, riu e disse: “Tá com medo de quê? Fantasma não existe, porra.” Ana, que nunca ficava pra trás, pegou a faca dele e cortou a palma da mão, deixando o sangue pingar no círculo. “Vamos brincar, então,” ela disse, com um sorriso que não era dela.

Não era uma coisa, eram várias.

O ar mudou na hora. Ficou denso, como se estivessem respirando lama. As lanternas piscaram e apagaram, e um som começou, baixo no começo, como um gemido vindo do chão. Não era humano, mas também não era animal. Era como se a casa estivesse viva, e puta da vida. Téo tentou correr pra porta, mas ela não abria, como se tivesse sido selada por algo do lado de fora. O gemido virou um grito, um som que parecia rasgar o cérebro, e as paredes começaram a pulsar, como se tivessem veias. De repente, o chão dentro do círculo rachou, e algo subiu. Não era uma coisa, eram várias, uma massa de mãos pequenas, ossudas, cobertas de uma pele cinza e rachada, como casca de árvore morta. Dedos longos, com unhas que pareciam lâminas, se esticaram pra fora, agarrando o chão.

“Quer brincar com a gente?”

E então vieram os rostos. Eram crianças, ou o que restava delas. Olhos brancos, sem pupilas, bocas abertas demais, cheias de dentes tortos e pretos, pingando um líquido preto que queimava o chão como ácido. “Quer brincar com a gente?” uma delas perguntou, com uma voz que parecia mil vozes falando ao mesmo tempo, cada uma mais errada que a outra. Samuel tentou esfaquear a coisa mais próxima, mas a faca derreteu na mão dele, o metal escorrendo como cera e queimando a pele até o osso. Ele gritou, um som que não parecia humano, enquanto a mão derretida borbulhava e fedia. Ana caiu de joelhos, os olhos arregalados, vendo algo que os outros não viam. “Eles sabem o que fiz,” ela murmurou, sangue escorrendo do nariz e da boca, como se algo estivesse espremendo ela por dentro. Clara tava no canto, rezando, mas as palavras saíam erradas, como se algo estivesse torcendo a língua dela.

Não eram só crianças…

As crianças da casa começaram a rastejar, não como gente, mas como aranhas, os ossos estalando e se dobrando em ângulos impossíveis. Uma delas agarrou Téo pelo pescoço, as unhas rasgando a pele como se fosse papel, e enfiou a mão dentro da garganta dele, puxando algo que não era carne, mas brilhava, como uma luz suja. Téo caiu, os olhos abertos, vazios, enquanto o corpo convulsionava e se desfazia em cinzas. Clara foi a próxima, arrastada pro círculo por mãos que saíam do chão, gritando até a voz sumir, o corpo esticando e rasgando como se fosse elástico, até sobrar só um monte de pele e cabelo. Samuel e Ana tentaram lutar, mas as crianças eram muitas, e não eram só crianças. Tinham algo dentro delas, algo que ria com vozes que vinham do inferno.

Corpos abertos, olhos costurados

Uma delas, com o rosto meio derretido, cravou os dentes no peito de Samuel, arrancando pedaços de carne enquanto ele berrava, o sangue jorrando como uma torneira. Ana viu, paralisada, enquanto outra criança, com um sorriso que cortava o rosto até as orelhas, enfiava os dedos nos olhos dela, não pra arrancar, mas pra empurrar algo pra dentro. Ana sentiu, dentro da cabeça, imagens de coisas que nunca viu: corpos abertos, olhos costurados, e um buraco sem fim onde algo gigantesco se mexia.

“Vocês quiseram brincar,” as vozes disseram, agora dentro deles, como vermes rastejando no cérebro. “Agora são nossos brinquedos.”

O silêncio macabro

A casa ficou em silêncio na manhã seguinte. Quando a polícia chegou, alertada por vizinhos que ouviram os gritos, encontraram só a faca de Samuel, derretida em uma poça de metal preto, e marcas de arranhões tão fundos nas paredes que pareciam feitos com uma motosserra. No círculo, o sangue de Ana ainda estava fresco, mas não havia corpos. Só um cheiro de enxofre e um eco baixo, como risadas de crianças, que fez até os policiais mais durões tremerem. Dizem que a Casa do Berro ainda chama quem duvida. À noite, se você passar por lá, pode ouvir risadas, e às vezes, um sussurro: “Vem brincar.” Mas ninguém que entra sai. E nas noites mais escuras, dizem que o círculo no chão brilha, e as mãos voltam, procurando mais brinquedos pra sua brincadeira eterna.

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