
⚠️ AVISO DE CONTEÚDO (+18)
Esta história contém violência gráfica, linguagem explícita e literatura extrema. Não é recomendada para menores de 18 anos ou pessoas sensíveis.
O Rádio Que Não Desliga
Eu tava num fim de mundo no interior do Maranhão, num vilarejo que parecia cuspido do cu do diabo. Era a casa do meu tio Zé, um velho filho da puta que colecionava tranqueiras como se fosse abrir um museu do cacareco. Lá no meio da bagunça, num canto empoeirado da sala, tinha um rádio velho, daqueles de válvula, que parecia ter saído da Segunda Guerra. O troço era feio pra caralho, com madeira rachada e um dial que brilhava verde, tipo olho de gato no escuro. Meu tio dizia que o rádio “tinha história”, mas nunca contava porra nenhuma, só ria com aquele dente torto que parecia debochar da minha cara.
Uma noite, tava um calor dos infernos, e o tédio tava me comendo vivo. Sem Netflix, sem Wi-Fi, só uma garrafa de cachaça pela metade e uns mosquitos que pareciam querer chupar minha alma. Aí, o rádio ligou sozinho. Crac-crac-chiado. Eu gelei, mano. O plugue tava fora da tomada, e a porra do rádio tava tocando uma música sertaneja antiga, daquelas que falam de amor perdido e facada no coração. Mas o som… era errado. A voz do cantor parecia arrastada, como se ele tivesse gargarejando sangue, e o violão soava como cordas de tripa sendo rasgadas.
Tentei desligar o rádio, mas o botão girava em falso, e o volume só aumentava. “Porra, que merda é essa?” Joguei o rádio no chão, mas o filho da puta continuou tocando, agora com um chiado que parecia um sussurro: “Você tá ouvindo, né?” Mano, meu cu virou uma sirene de ambulância. Corri pra chamar meu tio, mas a casa tava vazia. Portas trancadas, janelas seladas, e o rádio, que eu tinha jogado no chão, tava de volta na mesa, como se nunca tivesse saído dali.
Aí, a música parou, e uma voz começou a falar. Não era locutor de rádio, não, era uma voz rouca, como se alguém tivesse engolido brasas e tava cuspindo cinzas. “Você já tá aqui, otário. Não corre.” Eu olhei pro dial, e o ponteiro tava girando sozinho, apontando pra números que não existiam, tipo “666.6 FM”. O vidro do dial rachou, e, juro por Deus, uma mãozinha preta, ossuda, com unhas que pareciam lâminas, começou a sair de dentro do rádio. Eu gritei, peguei um facão que tava na cozinha e meti no rádio, mas o troço não quebrava. O facão ficou preso, como se tivesse enfiado num bloco de concreto.
De repente, o rádio começou a vomitar uma fumaça preta, fedendo a enxofre e carne queimada. A fumaça formou uma cara, mano, uma cara com olhos fundos, sem pupilas, e uma boca que ria sem parar. “Você me ligou, agora me escuta,” ela disse, e a porra da casa começou a tremer. As paredes racharam, e delas saíam mãos, dezenas delas, todas iguais àquela do rádio, arranhando, puxando meu cabelo, minha roupa. Eu corri pro quintal, mas o rádio tava lá, flutuando, com o dial brilhando como se fosse me engolir.
A voz voltou, agora dentro da minha cabeça: “Você dança comigo, ou eu danço com teu corpo.” Eu senti meus pés se mexendo sozinhos, como se fosse um boneco de marionete, dançando uma porra de um forró macabro. O rádio tocava alto, e cada nota parecia uma facada no meu peito. Eu vi meu tio no canto do quintal, mas não era ele, mano. Era um boneco de carne, com a pele pendurada, rindo com a mesma boca da fumaça. “Você gostou do rádio, sobrinho?” ele gargalhou, enquanto os olhos dele derretiam.
Eu desmaiei, ou acho que desmaiei, porque acordei na sala, com o rádio na minha frente, desligado. Mas, mano, ele liga toda noite, às 3 da manhã, sem falta. E, às vezes, vejo a fumaça saindo do dial, formando aquela cara, me chamando pra dançar. Ontem, achei um bilhete dentro do rádio, escrito com algo que parecia sangue: “A música nunca para, parceiro.”